O LIVRE apresentou, na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa de 21 de junho de 2022, um voto de pesar pela morte de Dom Phillips e de Bruno Pereira e condenação pelo seu assassinato, que foi aprovado por unanimidade.
Voto de Pesar pela morte de Dom Phillips e Bruno Pereira
As autoridades brasileiras confirmaram no dia 15 de junho o pior cenário no desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, cujo paradeiro se desconhecia desde 5 de junho. Um pescador, suspeito investigado pelo desaparecimento, acabou por confessar à Polícia Federal o seu envolvimento na morte dos dois homens bem como o local onde terão sido enterrados os corpos.
O resultado das perícias forenses comprovaram a identidade dos restos humanos encontrados como sendo de Dom Phillips e de Bruno Pereira, confirmando o desfecho trágico e temido desde a notícia do seu desaparecimento.
Bruno Pereira e Dom Phillips viajavam de lancha ao longo do rio Itaguaí, numa região próxima de território indígena, no extremo oeste do Amazonas – nos limites da fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia.
Bruno Pereira, de 41 anos, era um dos maiores especialistas em indígenas isolados ou recém-contactados do Brasil, particularmente do Vale do Javari – a área com maior concentração de indígenas isolados do mundo. Trabalhava na Fundação Nacional do Índio (Funai), onde desempenhava as funções de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da Funai, cargo do qual foi exonerado em 2019. Colaborava com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Univaja – enquanto fomentador da vigilância indígena, numa zona marcada pela violência associada à pesca e captura ilegais, em particular de pirarucu (um dos maiores peixes de água doce) e tracajá (um parente da tartaruga).
Dom Phillips, de 57 anos, vivia no Brasil há 15 anos, depois do que deveria ter sido uma estadia de apenas alguns meses. Conhecia bem a Amazónia, e não era estranho a zonas de conflito; colaborador freelancer de inúmeras publicações de relevo internacional, escrevia agora o livro “Como Salvar a Amazónia” sobre a sua viagem à Atalaia.
Segundo a organização Global Witness, o Brasil é um dos países mais perigosos para os ativistas ambientais, tendo sido 20 assassinados durante o ano de 2020. A destruição da floresta amazónica, a intensificação dos crimes ambientais e o desrespeito pelas comunidades indígenas têm-se intensificado sob o governo de Jair Bolsonaro. As declarações de Jair Bolsonaro face ao desaparecimento dos dois ativistas mereceram uma forte condenação a nível mundial.
Phillips e Pereira acabaram vítimas numa luta desigual pelo planeta e pela convivência dos povos em paz e respeito com a natureza. Cabe-nos fazer com que as suas vozes perdurem e que o legado que deixam não se perca na memória daqueles que, desde longe, fecham os olhos ao despotismo do chefe de estado brasileiro ou aos interesses que sustentam o seu regime.
Assim, a Assembleia Municipal de Lisboa, na sua sessão plenária de 21 de junho:
- Expressa o seu mais profundo pesar pela morte de Dom Phillips e de Bruno Pereira, guardando um minuto de silêncio;
- Condena veementemente o assassinato de Dom Phillips e de Bruno Pereira;
- Remete o presente voto à Embaixada do Brasil em Portugal, à Fundação Nacional do Índio (Funai) do Brasil, à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Univaja, à Survival Brasil e ao Fórum Indígena de Lisboa.
- Remete o presente voto às famílias de Dom Phillips e de Bruno Pereira.
Lisboa, 20 de junho de 2022