Lisboa: CML aprova voto de solidariedade e pela libertação dos cineastas iranianos

Lisboa: CML aprova voto de solidariedade e pela libertação dos cineastas iranianos

Voto submetido pelo LIVRE, aprovado por unanimidade na reunião pública de 27 de julho de 2022.

VOTO DE SOLIDARIEDADE E PELA LIBERTAÇÃO DOS CINEASTAS IRANIANOS JAFAR PANAHI, MOHAMMAD RASOULOF E MOSTAFA AL-AHMAD 

A 23 de maio, na cidade de Abadan, República Islâmica do Irão, o edifício Metropol colapsou, causando dezenas de mortos e centenas de feridos. A tragédia precipitou numerosas manifestações de rua por parte da população iraniana, em protesto contra a corrupção do regime local e das autoridades que foram responsáveis pela má construção do edifício e tinham sido avisadas para o perigo de derrocada. As imagens que chegaram ao mundo inteiro através das redes sociais mostram confrontações violentas e uso de violência policial desproporcional contra homens e mulheres iranianas. A brutal repressão policial que se seguiu nos dias seguintes motivou os protestos dos cineastas Mohammad Rasoulof e Mostafa Al-Ahmad que acabaram por ser detidos, de forma arbitrária, a 8 de julho. Mohammad Rasoulof tem um longo historial de protesto contra o governo iraniano, desde 2010, e é realizador do filme Não Há Mal Algum, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2020. Os seus filmes foram acusados de propaganda contra o regime e estão proibidos no Irão, estando o próprio realizador impedido de sair do país e exercer a sua atividade. Mostafa Al-Ahmad, conhecido pelos seus documentários sobre o Irão, também tinha expressado o seu protesto contra a violência policial nas redes sociais. Ambos encontram-se em solitária na prisão de Evin, em Teerão. 

Na sequência destas detenções, um dos nomes mais proeminentes do cinema iraniano, Jafar Panahi, e realizador de filmes celebrados como Táxi, Três Rostos e Isto não é um Filme, que sujeitaram às mesmas condições de censura de Mohammad Rasoulof, dirigiu-se às autoridades locais para exprimir a sua solidariedade com os seus colegas cineastas, tendo acabado por ser também detido a 11 de julho e condenado a cumprir uma sentença de prisão de seis anos (pendente desde 2010). 

Estes três cineastas não são um caso isolado. Algumas das mais brilhantes vozes artísticas e intelectuais do Irão têm vindo a ser silenciadas desde há meses e as suas liberdades civis desrespeitadas, numa vaga crescente de repressão por parte do regime da República Islâmica, que se encontra numa situação económica agravada pelas sanções internacionais, a pandemia da COVID-19 e a guerra movida pela Rússia contra a Ucrânia. É a população iraniana que mais tem sofrido os efeitos desta situação, à mercê de um governo manchado pela corrupção e que tem cometido constantes violações dos direitos humanos. Estes cineastas e artistas estão a ser alvo de um ataque feroz, pela defesa do seu povo e cultura contra um regime que se mantém firme numa demonstração chocante de tirania e autoritarismo. 

O cinema iraniano é considerado uma das mais belas formas de expressão artística do Irão, aclamado no mundo inteiro, e reconhecido pela sua identidade singular que nos revela o verdadeiro rosto do Irão para lá da mordaça do regime. Desde o cinema de Abbas Kiarostami, que originou vários discípulos e sucessores, o Irão não tem parado de deslumbrar o mundo com o seu contributo para a sétima arte, com muitos dos filmes a assumir uma voz marcadamente política, de desobediência e revolta contra o poder. 

A privação de liberdade destes artistas é injustificada e inaceitável e merece o repúdio da cidade de Lisboa. 

Em face do exposto, tenho a honra de propor que a Câmara Municipal de Lisboa delibere, na sua reunião de 27 de julho de 2022: 

Exprimir a sua forte solidariedade com os cineastas e artistas iranianos presos e juntar-se às inúmeras vozes e esforços da comunidade internacional que apelam à libertação imediata de Jafar Panahi, Mohammad Rasoulof e Mostafa Al-Ahmad. 

Lisboa, 26 de julho de 2022 

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