Na reunião pública de 18 de dezembro de 2024 da Câmara Municipal de Lisboa, com a presença da vereadora Patrícia Gonçalves, foi aprovada por unanimidade a proposta do LIVRE de atribuição, a título póstumo, da Chave de Honra da Cidade a Salgueiro Maia. Presta-se assim a devida homenagem a uma figura que tanto lutou pela democracia, pela cidadania, pela liberdade e pela paz em Lisboa e no país.
Proposta
Atribuição da Chave de Honra da Cidade a Salgueiro Maia
Fernando José Salgueiro Maia, o “capitão sem medo”, foi o rosto da ação militar revolucionária que pôs fim à mais antiga ditadura da Europa e que conduziria ao fim da mais longa Guerra Colonial em África.
Nascido em 1944 em Castelo de Vide, Salgueiro Maia ingressa aos 20 anos na Academia Militar, em Lisboa, transitando depois para a Escola Prática de Cavalaria de Santarém, onde termina a formação. Pouco depois, integra uma companhia de comandos da Guerra Colonial, no norte de Moçambique. Em 1972, encontra-se numa nova comissão, desta vez na Guiné — um dos cenários mais difíceis da guerra colonial, que ajudaria a despertar no oficial de carreira a sua consciência política e a convicção de que Portugal se encontrava do lado errado da história. E assim, acaba por decidir integrar a Comissão de Coordenação do Movimento das Forças Armadas, MFA.
É já como capitão que vem a comandar a mais decisiva ação do MFA, e também a mais complexa e perigosa, que deu corpo à revolução de Abril, e que conduziu até ao fim, bravo e resoluto, sem derramamento de sangue. Na noite de 24 de abril, é ao jovem capitão de 29 anos que cabe liderar a marcha da coluna militar de mais de 200 homens, de Santarém a Lisboa, onde chegou já de madrugada para ocupar o centro político da cidade, no Terreiro do Paço. Sem nunca entrar em confronto direto com os representantes do regime, já na manhã de 25 de Abril dirige-se ao Quartel do Carmo, onde ao longo de longas e tensas horas lidera o cerco que terminaria com a rendição do líder do Governo, o Presidente do Conselho, Marcello Caetano.
Salgueiro Maia foi homenageado em 1992 pela cidade de Lisboa, lembrando o seu papel na “Revolução dos Cravos”, numa cerimónia pública no Largo do Carmo, onde o então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Jorge Sampaio, afirmou: “Olhemos para esta grande dimensão da Liberdade e do Progresso que nos deram, e olhemos para isto como Estado, como Nação, como Povo, onde cada um pode seguir o caminho que entender”.
Todas as homenagens a Salgueiro Maia nunca serão demais. Sobretudo em Lisboa, palco da história de que foi o maior protagonista. A Chave de Honra da Cidade de Lisboa é atribuída a personalidades de reconhecido mérito que se notabilizaram e prestaram relevantes serviços à cidade. “Aquele que na hora da vitória/ Respeitou o vencido”, nas palavras de Sophia de Mello Breyner Anderson, deu em Lisboa o primeiro passo, seguro e firme, rumo à democracia portuguesa. Ainda Sophia: “Aquele que deu tudo e não pediu paga/Aquele que na hora da ganância perdeu o apetite”.
Assim, e no ano em que se celebram os 50 anos da Revolução de Abril, o Vereador do Partido LIVRE tem a honra de propor que a Câmara Municipal de Lisboa delibere:
1 – Atribuir a Chave de Honra da Cidade de Lisboa, homenageando a título póstumo Salgueiro Maia, Capitão de Abril, em reconhecimento pelos serviços prestados e em louvor do seu combate pela democracia, pela cidadania, pela liberdade, pela paz em Lisboa e em Portugal.
2 – Encetar as diligências necessárias no sentido de se atribuir a Chave de Honra da Cidade de Lisboa no decorrer do mês de abril de 2025, em datas como o dia 2 em que foi aprovada a Constituição da República Portuguesa de 1976, no dia 4 de abril em que Salgueiro Maia faleceu ou no dia 25 de abril.
3 – Comunicar à família esta deliberação.