Os supermercados, cantinas e restaurantes não podem deitar fora alimentos em condições de serem consumidos. É urgente a aplicação da Estratégia Nacional contra o Desperdício Alimentar.
O desperdício alimentar anual em alguns países permitiria alimentar todas as pessoas que passam fome no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Um terço de toda a produção alimentar mundial é desperdiçada. Em Portugal, todos os anos vão para o lixo cerca de um milhão de toneladas de alimentos e, no conjunto da União Europeia, 88 milhões de toneladas.
O desperdício de alimentos é uma consequência do atual modelo económico dependente de uma sociedade de consumo constante. A alimentação é, em grande parte, um negócio assente em complexas cadeias globais de abastecimento com elevados impactos ambientais. Os alimentos desperdiçados são sinónimo de um uso desnecessário de bens naturais comuns; da utilização sem finalidade de substâncias poluentes dos solos e da água; da produção de gases com efeito de estufa numa quantidade equivalente à da rede global de transportes terrestres. E são também sinónimo, não raras vezes, da exploração de quem os produz.
No Dia Mundial da Alimentação, 16 de Outubro, o LIVRE defende a necessidade de dar continuidade e aprofundar a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, de modo a reduzir o desaproveitamento nas diversas fases da cadeia de produção, comercialização e consumo dos alimentos. É importante que se adotem medidas legislativas que agilizem a doação de alimentos e não o seu descarte no lixo por parte de supermercados, restaurantes e cantinas; promover a partilha de alimentos em espaços comunitários como associações e juntas de freguesia; apoiar as iniciativas de cidadãos e empresas que contribuem para minorar o desperdício alimentar.
O LIVRE acredita que a questão do desperdício alimentar deve ser abordada no contexto mais vasto de redução do consumo e do desperdício em geral, de acordo com os princípios de uma economia circular. Só com um modelo económico baseado na solidariedade e sustentabilidade será possível conseguir uma alimentação consciente, ecologicamente sustentável e respeitadora do valor dos alimentos e de quem os produz, uma alimentação enquanto direito de todos os seres humanos e não enquanto lucro de apenas alguns.