Mergulho no ilhéu de Vila Franca do Campo
3 de outubro | Marina da Vila Franca, saídas para mergulho às 9:00 e às 14:00
José Azevedo, o cabeça de lista por São Miguel (monitor de mergulho e com larga experiência de mergulho científico), recolheu dados sobre a abundância e tamanhos dos peixes no Ilhéu de Vila Franca do Campo e num outro local da costa.
O Ilhéu de Vila Franca do Campo é uma das poucas reservas integrais de pesca nos Açores, e a única na ilha de São Miguel. Protegida da pesca desde 2004, a fauna do Ilhéu mostra já diferenças notórias em relação à costa adjacente, com mais peixe e com peixes maiores. É esse efeito que se pretende registar.
E como correu este dia?
“Primeiro mergulho do dia, no Ilhéu de Vila da Franca.
O Ilhéu é uma reserva natural terrestre e marinha para a gestão de espécies e de habitats. A pesca em torno do Ilhéu é proibida desde 2004, o que o torna uma ilha de sossego para os peixes num mar de redes e de anzóis. A Área Protegida do Ilhéu tem algum efeito na quantidade e no tamanho dos peixes que lá vivem?
Logo no início do mergulho vimos um mero com perto de 1 metro de comprimento. As minhas primeiras contagens, dirigidas para os peixes comerciais que vivem junto ao fundo, foi interrompida pela visão de um cardume de sardinhas perseguido por bicudas e por serras. Embora espetacular, os peixes pelágicos têm demasiada mobilidade para a sua presença aqui poder ser explicada pelo efeito da reserva. Tenho que focar a minha atenção nos peixes de fundo.
As espécies comerciais mais abundantes são as vejas, os sargos e as garoupas. A minha primeira impressão é que se vêm mais animais de grande tamanho do que nos sítios não protegidos. Vi também outras espécies que é menos comum ver noutros lugares da costa de São Miguel, como bodiões vermelhos e peixes-cão de grande tamanho (os primeiros tinham 40-50 cm, enquanto o maior peixe-cão era um macho com perto de 1 metro de comprimento!)
Passámos também por um cardume de besugos com centenas de animais de cerca de 30 cm, que o guia de mergulho me diz que “estão sempre ali”.
No total, registei 17 espécies de peixes comerciais.
Daqui a pouco vou mergulhar próximo de Ponta Garça, uma zona não protegida e portanto sujeita à pressão de pesca normal na Ilha de São Miguel. Estou curioso com o resultado.”
“Acabou há pouco o segundo mergulho, na Ponta Garça.
Uma coisa é ler os livros e os artigos científicos. Outra é ver com os seus próprios olhos. O contraste entre uma minúscula reserva e a costa adjacente é assombroso.
Comecemos pelas espécies: das 12 espécies de peixes de fundo com interesse comercial que registei no Ilhéu, 3 não estavam no outro lugar: o mero, o bodião vermelho e o peixe-cão, precisamente as espécies de mais alto valor.
Passemos à abundância: no Ilhéu vi 1,5 vezes mais sargos, 2,5 vezes mais garoupas e 5 (!) vezes mais vejas do que na Ponta Garça.
Finalmente, o tamanho: no Ilhéu vi muitas vezes vejas com mais de 30 cm, em Ponta Garça vi uma; na reserva são vulgares os sargos grandes, com mais de 20 cm- não vi nenhum desses no segundo mergulho.
Não há dúvidas que as reservas cumprem o seu papel. Se deixarmos a natureza respirar, ela produz com abundância. Os grandes peixes têm um potencial reprodutor enorme, que se traduz no repovoamento das áreas de pesca em torno das reservas. Mas o Ilhéu faz pouca diferença para os pescadores da Vila Franca.
Para serem eficazes, as reservas têm que cobrir 20-30% dos habitats, a distância de Ponta Delgada à Povoação por exemplo. Várias reservas podem também ser mais eficazes que uma grande, por exemplo uma rede de 4 reservas equivalentes à distância da Lagoa à Vila Franca.”
Fotografia no barco cedida por Carlos Paulo, Espírito Azul | Restantes fotografias: Pedro Aires Barbosa
Do nosso Programa Eleitoral:
“O esforço de pesca nos Açores tem crescido continuamente, com mais e melhores barcos e com técnicas de pesca mais eficientes, mas a quantidade de peixe desembarcado tem vindo a diminuir constantemente nos últimos 20 anos. O peixe está cada vez mais caro, mas os pescadores recebem cada vez menos. Os Açores necessitam de um setor pesqueiro vibrante e dinâmico, que assegure um rendimento digno a todos os elementos da fileira e contribua positivamente para os setores circundantes. Mas precisa também de ecossistemas marinhos saudáveis e produtivos. Conciliar estas duas realidades é possível, mas exige opções políticas claras na defesa do ambiente e de quem vive do mar.”
PARA UMA PESCA JUSTA E SUSTENTÁVEL O LIVRE DEFENDE:
- Aumento das mais valias para os pescadores
Deve ser favorecida uma economia solidária e colaborativa para que os pescadores possam, através de associações de classe e de cooperativas, intervir de modo a captar uma proporção significativa do valor gerado pela atividade. A formação profissional e o apoio à integração de jovens qualificados na fileira da pesca é essencial para dar autonomia ao setor.
- Criação de reservas marinhas integrais em todas as ilhas
Uma parte significativa (20-30%) dos habitats marinhos de cada ilha deve ser integralmente protegida para permitir a regeneração dos recursos e encorajar as atividades não extrativas, como o mergulho.