Voto de Pesar pela morte de Gil Mendo
Serenidade, discrição, curiosidade, generosidade, espírito de missão, sentido pedagógico, são muitos os traços destacados na personalidade e na postura de Gil Mendo, uma das figuras mais reconhecidas e estimadas no universo da dança em Portugal, para sempre ligado à memória e à história da Escola Superior de Dança. Deixou-nos no passado dia 23 de março, aos 76 anos.
No ano de 1946, em Oeiras, nascia Gil Mendo Valente e Branco.
Inicia cedo o seu trajeto pela dança, recebendo formação no Centro de Estudos de Bailado do Instituto de Alta Cultura/Teatro Nacional de São Carlos, entre 1969 e 1972, e no Benesh Institute of Choreology, em Londres, entre 1972 e 1975.
Logo em 1976 e durante a década seguinte, trabalha na Escola de Dança do Conservatório Nacional, onde não só foi docente, como também membro de várias Comissões Diretivas.
Na Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa é incontornável o seu papel na criação e no desenvolvimento da instituição, à qual permaneceu ligado durante quase toda a sua carreira, assumindo não apenas o cargo de vogal da respetiva Comissão Instaladora, entre 1983 e 1989, mas também a presidência do Conselho Técnico-Científico, a presidência do Conselho Pedagógico, a presidência da Mesa da Assembleia de Representantes e o lugar de Professor Coordenador do Curso de Licenciatura em Dança, de 1986 a 2014.
Em 1990, funda igualmente o Forum Dança, outro dos projetos mais relevantes na afirmação nacional e no reconhecimento internacional da denominada Nova Dança Portuguesa, cuja missão se tem vindo a traduzir, essencialmente, na promoção das práticas da dança através da formação profissional e artística, da investigação, da edição e da documentação.
Ainda na década de 90, mais especificamente entre 1990 e 1991, foi consultor para a dança do Comissariado Europália 91-Portugal e colabora na organização de mostras de dança portuguesa em Madrid, Glasgow e Bona, tendo participado em conferências e júris internacionais.
No contexto além-fronteiras, a atuação de Gil Mendo foi realmente determinante, também pela sua participação em várias redes internacionais ligadas às artes performativas, designadamente enquanto membro do comité executivo do “Informal European Theatre Meeting”, o que ocorreu de 1991 a 1993.
Nesses profícuos anos de 1990, atua simultaneamente numa esfera mais política, ao integrar a Comissão Instaladora do então Instituto Português das Artes do Espetáculo, sob a tutela do Ministério da Cultura, entre 1996 e 1998, tendo desde este ano até 2001, sido Coordenador do respetivo Departamento de Dança.
No campo da programação de algumas das prestigiadas instituições culturais do país, são vários os momentos assinaláveis na sua carreira, quer como consultor da Fundação das Descobertas/Centro Cultural de Belém, de 1993 a 1995, quer como responsável pela área da dança na Culturgest, entre 2004 e 2017.
No site da Escola Superior de Dança as palavras de despedida e agradecimento a Gil Mendo não poderiam ser mais eloquentes – “Despedimo-nos de ti, Gil, com profunda gratidão. Porque nos inspiraste como professor, como colega e como amigo, porque ajudaste a erguer a escola onde, agora, tantos outros constroem o seu lugar na dança e porque rasgaste para ela novas visões e novos horizontes. Sobretudo, pela tua imensa humanidade, pela tua procura do bem comum, pela tua dedicação a todas as causas, foste parte da nossa história na dança e da nossa história na vida. Até sempre, Gil.”
Para João Fiadeiro, um dos coreógrafos e bailarinos mais reconhecidos do país, Gil Mendo “criava paz sem dizer nada”. Nestes tempos em que vivemos, celebremos o seu encantamento pelos corpos em movimento, a enorme dedicação a um certo sentido de serviço público, a capacidade de ouvir e chegar ao outro, a atitude serena e harmoniosa, evocando a sua memória.
Assim, a Assembleia Municipal de Lisboa, reunida na 14ª reunião plenária de 29 de março de 2022, delibera manifestar profundo pesar pelo falecimento de Gil Mendo, bem como expressar à família e amigos as mais sentidas condolências.
Voto de pesar aprovado por unanimidade na Assembleia Municipal de Lisboa de 29 de março de 2022
