O LIVRE apresentou na Câmara Municipal de Lisboa, na reunião de Câmara de 8 de janeiro, um voto de pesar pelo falecimento de Adília Lopes, aprovado por unanimidade.
VOTO DE PESAR
PELO FALECIMENTO DA POETISA ADÍLIA LOPES
A 30 de dezembro de 2024, faleceu a poetisa Adília Lopes, aos 64 anos de idade. Nasceu em Lisboa com o nome de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, mas seria com o pseudónimo de Adília Lopes que viria a construir um percurso ímpar e original na poesia portuguesa, rompendo o cânone poético.
Começou por frequentar o curso de Física na Faculdade de Ciências de Lisboa, mas foi forçada a interromper os estudos devido a doença de foro mental, um episódio que marcaria grande parte da sua futura produção literária. Esse momento levou a que a poetisa – numa entrevista, em 2005, confessou que preferia o termo poetisa, existindo o termo feminino da palavra poeta – optasse por uma mudança de curso de vida.
Para Adília Lopes, a poesia era “uma questão de vida ou de morte”. Não havia meio-termo. Em 1983, decide enviar dois poemas seus à editora Assírio & Alvim que os integra no Anuário de Poesia: Autores não Publicados de 1984. Inicia uma nova licenciatura em Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa na Faculdade de Letras de Lisboa e é nesse período que lança, numa edição de autor, o seu primeiro livro de poemas Um Jogo Bastante Perigoso, seguido de O Poeta de Pondichéry. Seria o início de uma longa carreira poética que a levou a conquistar notoriedade, bem como reconhecimento da Academia e da crítica literária.
Em 1989, foi-lhe atribuída uma bolsa pelo Instituto Nacional de Investigação Científica (1989-1992), que lhe permitiu trabalhar no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, mas seria a bolsa de Criação Literária do IPLB, atribuída em 1999, a dar asas à sua criatividade, dando origens a obras no campo do teatro, bem como a diversos livros de poesia.
No ano de 2000 assistimos a um novo marco na carreira de Adília quando publica Obra, o conjunto dos seus livros de poesia, com gravuras de Paula Rego. Dá o salto de autora de culto, lida por uma minoria, para “poetisa pop” na ribalta, entrando naquela que será a fase mais mediática do seu percurso autoral.
Nasceu e viveu toda a sua vida em Lisboa, cidade que soube reconhecer ao longo dos anos o seu importante contributo, enquanto poetisa, para a conceção de uma escrita singular, feminina, que deu uma nova amplitude à poesia portuguesa, como atesta a sua participação em inúmeros encontros de poesia e antologias.
Nas palavras de Adília, “A minha poesia é uma epopeia de vida menor.” Uma poesia “doméstica e feminina”, com uma dimensão autobiográfica, que não deixava de abarcar o quotidiano preenchido de uma fina ironia, candura e humor. O estilo coloquial que caracteriza grande parte da sua poesia vive só na aparência, e enquanto leitores, somos transportados, com frequência, para uma linguagem cuidadosamente urdida, mas também marcada por crueldade e sofrimento.
Em 2024, celebrou 40 anos de carreira poética com a publicação da sua obra completa, Dobra, lançada pela Assírio & Alvim. Quarenta anos que permitem afirmar hoje, sem reservas, que a obra de Adília Lopes sobreviverá, tendo sido abraçada por novas gerações de leitores que estimam a sua poesia e reconhecem nela uma dimensão intemporal e de grande desassombro.
Assim, a Vereadora do LIVRE propõe que a Câmara Municipal de Lisboa, reunida em sessão a 8 de janeiro de 2025, delibere:
1 – Manifestar o seu profundo pesar pelo falecimento de Adília Lopes, expressando à sua família e amigos as mais sentidas condolências;
2 – Remeter o presente voto de pesar à sua família.
Lisboa, 8 de janeiro de 2025.
A VEREADORA
Patrícia Gonçalves