A semana de um gestor não vale mais que um ano de um trabalhador

A semana de um gestor não vale mais que um ano de um trabalhador

É urgente regular o salário dos gestores, estabelecendo um rácio máximo de desigualdade salarial entre os salários mínimo e máximo, tanto a nível nacional como europeu.

 

Foi noticiado pelo Jornal de Notícias que a remuneração média dos gestores das principais empresas portuguesas cotadas em bolsa é 52 vezes superior à remuneração média dos seus trabalhadores.

Isto, em termos brutos, indica que, na mesma empresa, basta uma semana de trabalho de um gestor para ganhar tanto como um trabalhador médio num ano inteiro. Esta diferença será ainda mais substancial se tivermos em conta os trabalhadores com salários mais baixos dessa empresa.

Os impostos não são suficientes para equilibrar esta diferença desproporcional e assegurar uma efetiva redistribuição. Não há trabalho ou responsabilidade que justifique esta diferença. Vai-se consolidando por isso uma sociedade mais desigual, mais injusta e mais polarizada.

É urgente por isso regular o salário dos gestores, estabelecendo um rácio máximo de desigualdade salarial entre os salários mínimo e máximo dentro das empresas e organizações. Além disso, devem ser regulados e limitados os bónus corporativos distribuídos por gestores.

 

E este governo de esquerda?

A geringonça não tem conseguido resolver esta desproporcionalidade de rendimentos dentro das empresas, que se tem, de facto, vindo a agravar desde 2014.

Em setembro de 2018 o PS recomendou ao governo que estabelecesse, “após consultados os parceiros sociais em sede de Conselho Económico e Social, um mecanismo de limitação proporcional da disparidade salarial no interior de cada organização, pública ou privada”. Esta recomendação foi aprovada pelo Parlamento em janeiro de 2019, mas não teve acolhimento por parte das associações patronais. Também em setembro de 2018, foi chumbado – inclusive pelo PS – um projeto de lei apresentada pelo Bloco de Esquerda que pretendia estabelecer um “Diferencial máximo entre a remuneração mais elevada e a remuneração mais baixa paga por uma mesma entidade empregadora”.

Porque queremos uma convergência de salários na Europa, porque defendemos um Pacto europeu que reforce os direitos dos trabalhadores e também porque muitos trabalhadores desempenham funções fora do país onde as empresas estão sediadas, entendemos que esta regulação deve ser feita tanto a nível nacional como europeu, como defendemos no programa eleitoral Um Novo Pacto para Europa, construído com os nossos parceiros da Primavera Europeia, e que levamos a votos no próximo dia 26 de maio.