Estas eleições provam que a intransigência negocial entre forças progressistas nunca traz bons resultados.
Espanha foi hoje a votos. Numas eleições muito marcadas pela questão da independência Catalã como principal tema eleitoral, o PSOE e as Unidas Podemos recuaram ligeiramente em número de assentos no Congresso dos Deputados espanhol, o PP obteve ganhos enquanto o Ciudadanos colapsou e, por fim, a extrema-direita do Vox obteve um resultado que deve preocupar qualquer democrata, ascendendo a terceira força política.
É de registar ainda o descontentamento geral no país vizinho pela realização das segundas eleições gerais em 2019, que resultou numa descida acentuada da taxa de participação eleitoral numa demonstração de descontentamento para com a classe política do país.
O impasse político que marcou os últimos meses no país vizinho parece manter-se e, nas eleições de hoje, volta a não se conseguir vislumbrar uma solução que permita uma maioria estável de governo. O PSOE e as Unidas Podemos têm enormes responsabilidades neste cenário de bloqueio. A intransigência negocial na tentativa de formar um Governo com uma maioria parlamentar precipitou estas novas eleições que resultaram em perdas para toda a esquerda e uma subida expressiva da extrema-direita. Estas eleições provam, uma vez mais, que do sectarismo entre forças progressistas nada de bom pode surgir.
Durante a campanha, o PSOE de Pedro Sanchéz – o partido mais votado nas eleições de hoje – endureceu o discurso contra os independentistas na Catalunha, entrando num jogo que só interessa à direita nacionalista espanhola. Os resultados desta estratégia estão à vista: a extrema-direita sobe e a esquerda continua a precisar dos independentistas Catalães para formar um Governo com apoio maioritário – um cenário cada vez mais improvável.
Um governo de coligação PSOE-PP é outro dos cenários possíveis. Sendo também improvável de se materializar, a sua concretização representaria um recuo no combate às políticas de austeridade em Espanha e muito dificilmente levaria a uma solução política pacífica e eficaz para a Catalunha.
O cenário de umas novas eleições em Espanha a curto-prazo parece o mais provável. Ainda assim, o LIVRE espera que, independentemente da complexidade do cenário político, e de tal parecer improvável, Espanha possa sair destas eleições com uma maioria progressista, com um Governo estável e com bases de diálogo para a construção de uma solução para a Catalunha que satisfaça todas as partes.