Portugal é o quarto país da Europa com mais espécies ameaçadas ou em risco de extinção. O LIVRE defende a urgência de um plano nacional de monitorização das espécies selvagens, habitats e ecossistemas e que sejam continuamente revistos os critérios de caça.
No Dia Mundial da Conservação da Vida Selvagem, o LIVRE considera prioritário que seja implementado um plano nacional de monitorização e avaliação contínua do estado das espécies selvagens, habitats e ecossistemas e que sejam retomados os calendários venatórios anuais, dependentes de uma avaliação criteriosa e contínua.
Segundo o mais recente relatório da WWF, as populações mundiais de mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis registaram uma queda média de 68% desde 1970. Os rios, lagos e zonas húmidas albergam cerca de 1 em cada 10 animais conhecidos, no entanto a biodiversidade da água doce está a diminuir ainda mais rapidamente do que a dos oceanos ou florestas: 84% em média desde a mesma data. Muitos microrganismos cruciais para a fertilidade do solo, plantas que são a base de praticamente todos os ecossistemas terrestres, insetos que polinizam a grande maioria das plantas que fornecem alimentos a todos os seres vivos, inclusive aos humanos, estão em profundo declínio. Por esta razão, a ultrapassagem do limiar da integridade biofísica do planeta é atualmente aquele que, tendo sido superado, mais exige ação concertada e urgente.
Portugal é o quarto país da Europa com mais espécies ameaçadas ou em risco de extinção, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza. Para tal muito contribuem a agricultura intensiva, a construção de grandes infraestruturas, como barragens e autoestradas, e a consequente destruição e fragmentação de habitats naturais, bem como a caça e o uso ilegal de armadilhas e venenos, a que se soma a falta de vontade política para atribuir a necessária prioridade à conservação da natureza e à gestão e valorização da Rede Nacional de Áreas Protegidas e dos sítios da Rede Natura 2000.
O LIVRE considera imperioso reverter esta situação, sendo que tal será apenas possível com o aumento do investimento público na conservação da natureza, dotando as diversas instituições responsáveis pela sua implementação, monitorização e fiscalização, com destaque para o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), dos necessários meios humanos e financeiros. Só assim será possível implementar uma série de medidas que o LIVRE considera indispensáveis para uma proteção efetiva da vida selvagem em Portugal:
- Avaliar o estado da biodiversidade;
- Elaborar um plano nacional de monitorização e avaliação contínua do estado das espécies selvagens, habitats e ecossistemas;
- Mapear e avaliar as funções e serviços dos ecossistemas em todo o território nacional;
- Criar planos de gestão para todas as áreas protegidas e sítios da Rede Natura 2000.
O LIVRE considera também urgente que se retome a prática de aprovar calendários venatórios anuais – e não plurianuais – avaliando anualmente as espécies, períodos e processos de caça. O estado sensível da biodiversidade e o ritmo a que muitas alterações se estão a dar, exigem rigor e avaliação frequente. Por essa razão, é também urgente o desenvolvimento de um sistema credível de estatísticas da caça, obtidas de forma independente e publicadas regularmente pelas entidades públicas responsáveis pelo demais tratamento estatístico dos dados relativos às atividades económicas.
Na ausência de acção política verdadeiramente ecológica e comprometida com o futuro do planeta e da biodiversidade, a actividade humana continuará a levar à diminuição drástica da biodiversidade selvagem, expondo-nos inclusivamente a sucessivos riscos sérios de novas doenças pandémicas, inviabilizando qualquer chance de reversão das alterações climáticas e, derradeiramente, ao colapso dos ecossistemas e ao declínio da civilização humana, tal qual a conhecemos. É tempo de mudar porque sem vida selvagem não há vida possível.