Após várias ameaças, o exército turco, apoiado por várias milícias radicais, começou a invasão não provocada do território sírio do Rojava. Este território, de maioria curda, revelou-se nos últimos anos como um dos poucos baluartes de democracia, igualdade e convivência num país devastado pela guerra civil. É aliás no Rojava onde se verificam algumas das mais interessantes experiências democráticas atualmente, assentes no confederalismo democrático, e que promovem uma visão laica, feminista e ecologista da sociedade. Esta invasão ordenada por Erdogan e autorizada por Trump e Putin é um ato de traição ao povo curdo ao qual o LIVRE se opõe e que deve ser denunciado.
A União Europeia, pela voz de vários dos seus representantes, já mostrou o seu descontentamento, ameaçando com sanções. Mas é preciso que se tomem medidas concretas. Nos últimos anos, um vergonhoso acordo entre os Estados europeus e a Turquia fez com que este país recebesse grandes quantidades de dinheiro para servir de tampão à entrada de refugiados da guerra na Síria em território europeu. Agora, Erdogan não hesita em utilizar esses refugiados para ameaçar a UE caso esta tome medidas concretas ou até caso chame a esta ação aquilo que ela é: uma ocupação. E é preciso evitar que o norte da Síria se torne um Chipre do Norte, ocupado de facto pela Turquia.
A ocupação turca desde há mais de um ano do cantão de Afrin, no norte da Síria, deixa antever o pior para a população do Rojava. Roubos, raptos e execuções arbitrárias tornaram-se recorrentes neste território onde são as milícias islamitas, com o patrocínio turco, quem dita as regras. Pedimos ao governo português que interceda junto dos seus parceiros europeus e mundiais para que sejam tomadas medidas concretas contra esta invasão. Desde logo, pedimos que seja instituída uma “no fly zone” para que a aviação turca não possa bombardear o território sírio de forma indiscriminada. Convidamos ainda todos a participar nos vários encontros organizados pela defesa do Rojava e contra a invasão turca.
[imagem: Zerocalcare, no L´Espresso]