Começou esta semana, em Bacu, no Azerbeijão, a 29.ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas – a COP29. No dia em que tinha início a Conferência, a Organização Meteorológica Mundial apresentou o seu relatório provisório para o ano de 2024, indicando que o aumento da temperatura a nível global até ao mês de setembro foi de cerca de 1,54 graus acima dos valores pré-industriais; ou seja, acima do tecto de 1,5ºC acordado na COP de Paris. Mais, a COP29 tem lugar num país regido por um autocrata, produtor de petróleo e poucos dias após a eleição de Donald Trump – conhecido pela sua oposição a políticas de promoção da transição ecológica – como presidente dos EUA. Não se antecipa, pois, que desta COP29 saia qualquer decisão que ofereça uma resposta à altura dos desafios que o planeta e as pessoas têm pela frente. Este facto é ainda mais grave quanto um dos objetivos desta conferência é o de assentar as bases para um Novo Objetivo Coletivo Quantificado de Financiamento Climático (NCQG na sigla em inglês), ou seja, um acordo global para o financiamento justo para o combate e adaptação às alterações climáticas.
A COP29 tem também lugar dias após as trágicas cheias que fizeram centenas de vítimas em Espanha, nomeadamente na região de Valência. Esta catástrofe relembra que as alterações climáticas são uma questão não só ambiental como também de vidas humanas. As medidas de combate às alterações climáticas mas também as medidas de adaptação e prevenção são essenciais e o seu financiamento deve estar à altura do exigido.
É precisamente este tipo de investimento que tem tido oposição por parte de partidos de direita e, particularmente, da extrema direita, sendo o caso de Valência exemplo disso mesmo. Fundos outrora alocados à resposta à emergência climática foram, por iniciativa da direita e extrema direita, desviados para outras atividades, privando assim de meios que teriam servido para reduzir o impacto das cheias das últimas semanas. Essa mesma extrema direita tem tentado aproveitar a catástrofe para, semeando discórdia e mentiras nas redes, tirar partido político das centenas de mortes registadas. Este é um perigoso círculo vicioso onde se reduzem os meios de combate e adaptação às alterações climáticas, tentando posteriormente tirar ganhos políticos de catástrofes ambientais.
De acordo com a já referida Organização Meteorológica Mundial, pertencente à ONU, o aumento da temperatura da atmosfera promove uma maior saturação de vapor de água, que por sua vez causa precipitações mais intensas, estando assim o aquecimento global diretamente ligado à ocorrência de fenómenos cada vez mais extremos. Nos próximos anos, serão mais recorrentes fenómenos como o que assolou Valência, bem como ondas de calor e secas, igualmente perigosas. Não é possível continuar a negar as evidências científicas, muito menos as evidências vividas pelos sobreviventes desta catástrofe.
Por isso a posição do LIVRE é clara, assegurando o seu compromisso na luta contra as alterações climáticas, através da promoção de:
- Redução das emissões de carbono, incentivando a mobilidade sustentável e os transportes públicos, bem como as energias renováveis e o estudo de alternativas para diversificação face às já bem conhecidas solar e eólica.
- Cidades mais resilientes, com a criação de infraestrutura e aplicação de soluções baseadas na natureza, como bacias de retenção ou telhados verdes, que permitem reduzir a problemática da impermeabilização e atenuar o efeito das cheias.
- Preparação de resposta de emergência, nomeadamente definindo um Plano de Infraestruturas Críticas, mapeando os locais onde estes fenómenos poderão ter maior impacte e dotando a Proteção Civil de meios adequados.
Um dos temas abordados na COP29 será certamente o de quem deve ser chamado a financiar o combate às alterações climáticas. Também nesse sentido o LIVRE tem insistido na necessidade de tributar justamente os ultra ricos para que os Estados se financiam e respondam aos principais desafios que temos pela frente, como são exemplo as alterações climáticas.