A Luís Moita, em solidariedade e com gratidão

A Luís Moita, em solidariedade e com gratidão

É com emoção que o LIVRE assinala o desaparecimento de Luís Moita, nascido em 1939, democrata e opositor à ditadura e à guerra colonial, um dos dinamizadores mais importantes do catolicismo progressista, fundador do Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral (CIDAC) que teve um papel central na cooperação portuguesa com África, e académico e professor marcante na área das relações internacionais e dos estudos para a paz.

É impossível, em poucas linhas, fazer justiça ao percurso cívico e interventivo de Luís Moita, à sua coragem e ao seu empenho solidário. Primeiro orientado para uma carreira académica na área da Teologia, que o levou a estudos em Roma e a um doutoramento em filosofia e moral, foi a partir dos anos 60 que veio a tornar-se cada vez mais ativo no plano social e político. Um dos seus pontos altos foi o da organização da resistência à ditadura e do combate à guerra colonial na ocupação da Capela do Rato em 1972. Vítima da repressão ditatorial e da sua polícia política, Luís Moita esteve preso e apenas saiu da Prisão de Caxias logo após o 25 de Abril de 1974. Em democracia, foi membro do V Governo provisório e depois um dos dinamizadores incontornáveis na sociedade civil dos esforços de cooperação e desenvolvimento de Portugal com outros países, nomeadamente em África. A partir da segunda metade da década de 1980 regressou à academia, desta vez como Professor na Universidade Autónoma, marcando várias gerações de alunos e colegas, e tendo um papel central na criação de publicações, anuários, bem como na realização de congressos e eventos, e em encontros internacionais focados na prevenção e resolução de conflitos, sempre com um sentido de diálogo e de paz.

No novo século o seu sentido de participação não esmoreceu, pelo contrário. Esteve sempre presente no debate democrático no nosso país e voltou a uma atividade mais intensa nas lutas contra a austeridade da década de 2010.

Foi nesse contexto que se cruzaram os caminhos do LIVRE, partido recém-fundado em 2014, e de Luís Moita, com décadas e décadas de dedicação à causa da democracia em Portugal. Luís Moita foi um dos muitos cidadãos que se juntaram à nossa candidatura LIVRE/Tempo de Avançar, e logo com um contributo maior, tendo dado um contributo generoso (e muito trabalhoso) ao organizar como Presidente da Comissão Eleitoral as primeiras eleições primárias de sempre na história das eleições legislativas na democracia portuguesa. Foram mais de 400 candidatos em mais de 20 círculos eleitorais, e dias e dias de escrutínio que Luís Moita supervisionou sempre com a sua calma firme, o sorriso bondoso e uma infinita paciência com que a todos tratava, fossem jovens ou não, dirigentes políticos experimentados ou entusiastas recém-chegados.

Obrigado, caro Luís, por tudo o que lutastes pela democracia, e pelo nosso país, e pela humanidade que puseste em tudo o que fizeste. E obrigado pela generosidade com que connosco fizeste uma parte do teu caminho.