O drama dos refugiados e a luta pela tolerância, pela inclusão e pelos direitos de todos os humanos sem exceção continuam a ser temas da mais urgente atualidade.

Neste ano que agora começa, se celebra o 112º aniversário do nascimento de Hannah Arendt, uma das maiores vozes do pensamento no século XX. Nascida em 1906 na Alemanha, numa família judaica, Arendt formou-se em Filosofia, tornando-se depois uma estudiosa e divulgadora de teoria política, ensaísta e cronista de alguns dos momentos mais cruciais da história europeia e mundial contemporânea. A sua obra continua a ser hoje o fundamento de alguma da melhor reflexão sobre responsabilidade, republicanismo, direitos humanos, cosmopolitismo e ecologia. Os seus textos sobre o totalitarismo são também agora revisitados à luz da vaga nacional-populista dos últimos anos. E as páginas que dedicou aos refugiados e apátridas são cada vez mais uma fonte de inspiração e conforto para todos os que vivem as situações de maior vulnerabilidade humana no mundo, e para todos os que lutam por ver os direitos dos refugiados e apátridas reconhecidos e respeitados.

O que porventura poucos saberão é que neste mês de janeiro de 2022 se celebram também os 81 anos da chegada de Hannah Arendt a Portugal, onde viveu – mais concretamente, em Lisboa – quando foi ela própria refugiada ao fugir da França sob ocupação nazi em 1940. Arendt chegou a Lisboa em janeiro de 1941, acompanhada pela mãe e pelo marido. A estadia em Lisboa, como sucedeu com uma multidão de outros refugiados e apátridas fugidos à perseguição racial e política dos nazis e fascistas, foi vivida num clima de ansiedade e desânimo até ao momento em que a família conseguiu finalmente embarcar rumo aos Estados Unidos da América. Essa vulnerabilidade, vivida na capital portuguesa, terá inspirado uma das suas obras mais sucintas e impactantes, o manifesto Nós, Refugiados.

Enquanto tributário das ideias de Hannah Arendt, o LIVRE entende que é mais importante do que nunca lembrar a sua memória, e que a sociedade civil cumpra com o seu dever cívico ao lembrar as vidas dos refugiados e apátridas que nos precederam, celebrando o seu contributo para a história humana e o importante chamamento moral que o seu exemplo de vida invoca. Uma das primeiras ideias dos deputados municipais do LIVRE no mandato anterior foi concretizada a 10 de dezembro de 2018, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Como forma de dar permanência à memória de Hannah Arendt em Lisboa, uma placa foi afixada no chão do largo sito no cruzamento entre a rua onde viveu, a Rua da Sociedade Farmacêutica, e a Rua do Conde de Redondo, na freguesia de Santo António.

O LIVRE propôs, em janeiro de 2022, em reunião de Câmara Municipal que seja atribuído o nome da filósofa Hannah Arendt ao largo referido supra, propondo desde já à Comissão de Toponímia que avalie o tema na sua próxima reunião e ainda que se realize no mesmo local uma intervenção artística que permita tornar mais visível a memória e a presença de Hannah Arendt em Lisboa, propondo desde já a ideia ao Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa. A proposta foi aprovada por unanimidade.

Patrícia Gonçalves e Rui Tavares apresentam a proposta