O Vereador do LIVRE na Câmara Municipal de Lisboa votou hoje contra uma Moção proposta pelo PCP que propunha a suspensão das obras da linha circular do Metro de Lisboa. A justificação desta decisão foi vertida em Declaração de Voto apresentada ao mesmo órgão:
Declaração de voto do LIVRE sobre Moção n.º 40/2021 subscrita pelos Vereadores do PCP a propósito da linha circular do metro de Lisboa
O LIVRE, embora acolhendo algumas da preocupações e compreendendo alguns dos argumentos apresentados pelo PCP na sua moção, não pode acompanhar o raciocínio que apresenta taxativamente a linha circular do metro de Lisboa como um erro, pois considera que um debate esclarecedor sobre escolhas estruturantes para a cidade deve partir de uma análise tão objetiva quanto possível das vantagens e desvantagens de cada opção técnica.
Ora, a linha circular do metro de Lisboa tem evidentes vantagens do ponto de vista de três dos maiores desafios que a cidade enfrenta hoje: a (i) descarbonização e, concomitantemente a necessidade de (ii) retirar carros poluentes das zonas de maior densidade da cidade, (iii) oferecendo em alternativa transporte público de alta qualidade, frequente e prático. Essencialmente a rede do metropolitano de Lisboa serve dois propósitos distintos: por um lado as deslocações bidiárias casa-trabalho, muitas das quais vêm de concelhos limítrofes: por outro lado as múltiplas deslocações irregulares no centro da cidade durante todo o dia. As primeiras são pendulares e as segundas, pela natureza da própria cidade, circulares. As primeiras podem admitir um serviço mais espaçado com concentrações de manhã e ao fim da tarde, e as segundas exigem um serviço de grande frequência, não ultrapassando os três minutos entre a passagem de cada composição. É esse segundo propósito que uma linha circular permite realizar com muito maior eficácia, para mais duplicada pelo facto de se poder fazer o mesmo circuito em duas direções diferentes. Para que as deslocações no centro da cidade sejam competitivas com o automóvel privado, é essencial que o utilizador do Metro saiba que pode contar com este serviço de alta frequência.
Por outro lado, embora seja compreensível a preocupação com os passageiros da linha amarela que poderão ter que vir a realizar um transbordo suplementar, a verdade é que o raciocínio que apresenta este como um problema inultrapassável nos parece lacunar e incompleto. Afinal, os utentes da linha amarela não têm hoje acesso direto a todo o centro da cidade, mas apenas ao eixo das avenidas novas. Com uma linha circular, apesar desse novo transbordo, passarão a ter acesso a todo o centro da cidade com maior frequência e a maior rapidez permitida pelos dois sentidos de trânsito das composições. Isto para não falar, é claro, da possibilidade de que as carruagens da linha amarela entrem diretamente na linha circular.
Adicionalmente, a preocupação centrada apenas na linha amarela esquece os transbordos excessivos que os utentes de outros modos de transporte têm hoje de realizar. Um exemplo claro é o de quem vem da linha de Cascais ou da margem sul do Tejo e, após entrar no metropolitano de Lisboa na estação Cais do Sodré, se vê forçado muitas vezes a mudar de linha na estação imediatamente seguinte (Baixa-Chiado). Estes passageiros, do nosso município ou dos municípios limítrofes não têm certamente menos direitos do que os que usam a linha amarela. E esquece também este raciocínio as enormes vantagens para quem chega a Lisboa, provindo da linha da Azambuja ou da linha de Sintra, e que com a nova linha circular terá um acesso muito mais facilitado, rápido e frequente a muito mais pontos no centro da cidade.
Por essas razões o LIVRE votou contra os pontos 1 e 2 desta Moção e absteve-se no ponto 3, não deixando contudo de votar favoravelmente o ponto 4 por defender o aprofundamento do debate e dos estudos e por defender também a crucial prioridade a dar à expansão do Metro para a zona ocidental da cidade. Gostaríamos de ter a esperança de que este debate fosse esclarecedor e isento de maniqueísmos, e que não levasse o país e a cidade para a costumeira situação de pôr em causa decisões já tomadas ou, em alternativa, fazer por parte do governo e da Metropolitano de Lisboa tábua rasa de deliberações de órgãos colegiais como esta Câmara.
A opção por uma linha circular do Metro Lisboa tem vantagens evidentes, de que listamos algumas, e deve ser defendida com base nos seus méritos. Entre estes, conta-se o de permitir uma apreciação mais atualizada e contemporânea do que são os inúmeros fluxos de mobilidade na área metropolitana de Lisboa e que, como fica dito, já há muito não se resumem aos meros movimentos pendulares casa-trabalho. Pelo contrário, uma vez chegadas ao centro da cidade, as pessoas têm necessidades de uma multiplicidade de deslocações, por razões educacionais, de fruição da vida cultural, de lazer, familiares, etc., e a linha circular serve melhor esses propósitos, aumentando assim o direito à cidade por parte de todos. A moção, no ponto em que está, esquece-se ou opta por não contemplar todos estes aspetos.