Lisboa: Saudação aos 100 anos do nascimento de Natália Correia

Lisboa: Saudação aos 100 anos do nascimento de Natália Correia

O vereador do LIVRE, Rui Tavares, apresentou na reunião ordinária da Câmara Municipal de Lisboa, a 13 de setembro, um voto de saudação do centenário do nascimento de Natália Correia, tendo sido aprovado por unanimidade.

Voto de Saudação

SAUDAÇÃO AOS 100 ANOS DO NASCIMENTO DE NATÁLIA CORREIA

Natália Correia, uma das personalidades mais destacadas da literatura portuguesa do século XX, é autora de uma vasta obra notável como poeta, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora. Além da sua atividade na imprensa escrita, notabilizou-se enquanto deputada da Assembleia da República de 1980 a 1991 e protagonizou várias intervenções políticas públicas em que sempre batalhou pela defesa dos direitos e dignidade da mulher.

Natural da ilha de São Miguel, Açores, Natália de Oliveira Correia nasceu a 13 de setembro de 1923 e, aos onze anos de idade, estabeleceu-se em Lisboa com a família.
A sua carreira literária inicia-se em 1946 com a publicação do seu primeiro romance, um livro infantil de título “Grandes Aventuras de Um Pequeno Herói”, época em que começa a escrever os seus primeiros livros de poesia.

Durante os anos do Estado Novo, Natália Correia tomou parte ativa da oposição antifascista com a sua participação no MUD em 1945 e deu o seu apoio às candidaturas presidenciais do General Norton de Matos em 1949 e de Humberto Delgado em 1958, desafiando publicamente a autoridade do Estado Novo. Em 1965 as suas divergências com o regime atingem o pico, na sequência do escândalo literário que irrompe com a publicação da “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, uma coletânea que pretendia reunir “a poesia maldita dos nossos tempos”, desde textos medievais a inéditos e contemporâneos. A edição é prontamente censurada e apreendida pelo regime devido “ao seu carácter pornográfico” e Natália Correia, bem como o editor Fernando Ribeiro de Mello, viriam a ser julgados em tribunal, num processo que culminou com uma condenação a três anos de prisão com pena suspensa. Como diretora literária dos Estúdios Cor, foi também responsabilizada pela edição das “Novas Cartas Portuguesas” de Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno.

Após o 25 de Abril, notabilizou-se por uma vida social intensa, com a organização de tertúlias literárias, primeiro em sua casa, e depois no bar “O Botequim”, na Graça, que fundou em 1971, juntamente com Isabel Meireles, Helena Roseta e Júlia Marinha, e que se tornou um ponto de convergência da classe intelectual e política lisboeta das décadas de 70 e 80. O seu talento oratório foi também posto ao serviço da atividade política; depois da Revolução de 25 de Abril de 1974 esteve ligada ao Partido Socialista (PS), ao Partido Popular Democrático (PPD) e, por fim, ao Partido Renovador Democrático (PRD). Foi eleita deputada à Assembleia da República, pelas listas do PPD, de 1979 a 1980 e de 1980 a 1983, e pelo PRD, como independente, de 1987 a 1991.

Natália Correia considerava que a intervenção política era “uma obrigação dos poetas” e por isso não surpreende o seu empenhado combate cívico e político pelas mais diversas causas ligadas à Mulher, à Cultura e aos Direitos Humanos. Foi consultora para os Assuntos Culturais Internos da Secretaria de Estado da Cultura em 1977, dirigida por David Mourão-Ferreira. Nos anos 90, foi também responsável pela criação da Frente Nacional para a Defesa da Cultura, juntamente com outras grandes figuras literárias como José Saramago e Manuel da Fonseca.

Nunca deixou de manter fortes ligações à sua terra natal, as ilhas açorianas, por quem foi uma eterna apaixonada. A sua escrita é de difícil classificação, não se associando a nenhuma escola literária definitiva, mas o que é certo é que sempre se pautou por grande frescura, acutilância e originalidade. Em 1991, a poetisa recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro “Sonetos Românticos” e foi condecorada com a Ordem de Santiago e a Ordem da Liberdade. Faleceu em Lisboa, em 16 de Março de 1993, mas a sua voz combativa e poética ainda se ergue bem alto, e nunca foi tão atual e relevante como nos dias de hoje.

Assim, tenho a honra de propor que a Câmara Municipal de Lisboa delibere:

  1. Saudar os 100 anos do nascimento de Natália Oliveira Correia, reconhecendo o seu contributo e o seu legado cultural, cívico e político.
  2. Propor ao Conselho Municipal da Medalha de Lisboa a atribuição, a título póstumo, da Medalha de Honra da Cidade a Natália Correia.

Lisboa, 13 de setembro de 2023

O VEREADOR
RUI TAVARES

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