Por uma Europa que acolhe

Por uma Europa que acolhe

“O nosso trabalho habitual consiste em recuperar corpos de mortos nas águas, seja do mar, de um pântano ou de um rio, mas desta vez tínhamos de resgatar pessoas vivas, de todas as idades, em todas as condições, e escolher entre tanta gente quem precisava mais urgentemente da nossa ajuda”
Juanfran, guardia civil, 19 de maio de 2021

Temos assistido, nos últimos dias, ao drama da chegada às portas de Ceuta de milhares de pessoas, vindas do mar, que arriscaram a vida, sua e de família e amigos, em busca de uma Europa solidária, desenvolvida e em paz. Mas este não é um drama dos últimos dias, é um drama de anos de uma política de Europa fortaleza. Nos últimos anos, morreram mais de 20.000 pessoas afogadas no mar mediterrâneo.

O que vemos, em choque, é a repetição de histórias, de todos os dias, de há muitos anos, umas que nunca nos chegam porque os protagonistas morrem no mediterrâneo, outras que nos chegam em forma de campos de refugiados na orla da Europa ou em países do sul da Europa.

O LIVRE lutará sempre para que ninguém se habitue à ideia da inevitabilidade da morte na busca por melhores condições de vida

Que ninguém se habitue às imagens de sofrimento e desespero das milhares de pessoas que se aventuram na fuga da guerra ou da miséria. 

Que ninguém ache normal que “aqueles” sejam travados na praia e devolvidos ao desespero. 

Que ninguém aceite que uma Europa que se diz humanista e assente numa tradição de compaixão e solidariedade vire os olhos, e a ação política, a outros seres humanos, com legítima aspiração a sobreviver à guerra, ditaduras e miséria, e a querer para si e para a sua família o bem-estar que o seu país de origem lhe nega.

O LIVRE está solidário e empenhado, e por isso aqui reforçamos a exigência que fazemos há muito, para que sejam implementados na União Europeia:

  • Corredores humanitários para refugiados (políticos, de guerra ou económicos) legais e seguros, e estruturas, nacionais e europeias, que apoiem a integração social.
  • Uma Operação Europeia de Busca e Salvamento, alternativa ao FRONTEX, para salvar as pessoas no mar e a descriminalização da solidariedade e ajuda aos migrantes.
  • Políticas de diplomacia transeuropeia que previnam nos países de origem as vagas de refugiados, quer através da implementação de políticas de apoio, quer de prevenção de conflitos, quer de promoção da defesa dos Direitos Humanos. Ninguém deve ver-se obrigado pela guerra, a fome, ou delito de opinião, a abandonar o sítio onde nasceu e quer viver.
  • Um programa conjunto de reinstalação de refugiados na União Europeia, que congregue todos os países da UE e não descarte essa responsabilidade para os países da orla mediterrânica. O princípio da solidariedade entre os estados da União Europeia, no que diz respeito às políticas de asilo e refugiados deve ser mandatório. Os estados que se recusem a cumprí-lo deverão ser sancionados ou deve ser apresentada queixa  ao Tribunal de Justiça da União Europeia.
  • Um programa de fiscalização das condições salariais e de trabalho nas comunidades de migrantes em solo europeu.
  • A criação de um passaporte internacional humanitário, assim como Vistos de Reunificação Familiar, a serem atribuídos pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

O LIVRE reforça o seu compromisso com quem não aceita que a Europa nos divida entre nós e os outros. A nossa responsabilidade é para com a humanidade, a solidariedade e a liberdade. E essa faz-se com todos, independentemente da nacionalidade ou origem.

 

Imagem: Youtryandyoutry