Lisboa: Mortes no Mar às portas da Europa

Este voto na Assembleia Municipal de Lisboa foi aprovado, com a abstenção do chega no ponto 1 e com o voto contra do PSD, Aliança, PPM e chega no ponto 2.

VOTO DE PESAR 

DIA MUNDIAL DO REFUGIADO 

MORTES NO MAR ÀS PORTAS DA EUROPA 

Com a chegada do verão, multiplicam-se as viagens marítimas rumo à Europa e os naufrágios voltam também a assolar esta que é a rota marítima mais mortífera do mundo. Descrito como “a pior tragédia de sempre no Mediterrâneo” pelos próprios responsáveis europeus, o afundamento ao largo da Grécia no dia 14 de junho de uma embarcação que, de acordo com as Nações Unidas, transportaria cerca de 400 a 700 pessoas resultou num número indeterminado de vítimas em que centenas de pessoas continuam desaparecidas, tendo sido confirmados até agora 82 mortos e 104 pessoas resgatadas. O barco de pesca tinha partido do Egito em direção à Líbia, com pessoas de várias nacionalidades a bordo, a maioria do Paquistão, Síria e Egito e entre elas, várias dezenas de crianças.  

De acordo com a Comissária Europeia dos Assuntos Internos, YIva Johansson, tem-se observado “um aumento de 600% nesta rota, desde a Líbia até à UE ou através de Itália”. Tragédias como esta são também mais prováveis numa altura em que aqueles que procuram refúgio ou uma vida melhor na Europa são forçados a fazer viagens mais longas e perigosas, com destino a Itália, para evitar o controlo fronteiriço da Grécia – a quem têm sido imputadas violações da lei internacional em matéria de socorro e salvamento.  

 Também na “rota do Atlântico”, uma embarcação que viajava rumo à Europa com 60 pessoas a bordo naufragou no passado dia 21, cerca de 150 quilómetros a sul das Ilhas Canárias. Duas pessoas perderam a vida, entre elas, uma criança. Pensa-se que as vítimas mortais possam vir a ultrapassar as três dezenas.  

Em vez de criar rotas legais e seguras de acesso, a União Europeia acordou, em junho, um plano para implementar reformas das suas políticas de migração e asilo com o objetivo de uniformizar procedimentos, ao mesmo tempo que a sua legislação dificulta o acolhimento de pessoas. O plano mereceu o voto favorável da maioria dos países da UE, incluindo Portugal, e introduz um “mecanismo de solidariedade” através do qual será possível aos Estados-Membros recusar a admissão de pedidos de asilo mediante o pagamento de uma contribuição financeira para um fundo de apoio europeu. Contudo, não existe ainda consenso quanto ao destino a dar às pessoas a quem não é concedida a possibilidade de pedido de asilo.  

Este acordo preliminar será a base das negociações entre a Presidência do Conselho e o Parlamento Europeu e, além de deixar em aberto várias questões fundamentais, falha crucialmente na proteção e defesa dos direitos fundamentais ao não incluir exceções para menores e famílias com crianças, deixando-as igualmente vulneráveis perante uma política de migração e asilo globalmente mais restritiva.  

Nas próximas semanas, também a Tunísia deverá decidir sobre a proposta da Presidente da Comissão Europeia com vista à criação de uma “parceria” que envolverá um pacote de ajuda financeira como contrapartida para a total cooperação tunisina nas questões migratórias, nomeadamente, na readmissão de migrantes. Sob o pretexto de conceder apoio na gestão migratória, esta proposta põe em risco milhares de pessoas que tentem sair da Tunísia, através de controlos de fronteira mais apertados e relocalização forçada de migrantes, numa clara violação do direito a procurar asilo.  

O LIVRE considera que, ao subsidiar estas violações dos direitos humanos, a UE se aproxima de uma “Europa Fortaleza”, que paga para virar as costas a quem está em situação de maior vulnerabilidade, em clara contradição com os valores que diz defender e que estão na base do projeto europeu. A solidariedade e a dignidade humana não são negociáveis e cabe a cada Estado-Membro, através dos seus representantes eleitos, preservar e defender a missão europeia de acolhimento, de integração e de defesa das pessoas deslocadas e em busca de asilo.  

De acordo com os dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), quase 27 mil pessoas desapareceram nas águas do Mediterrâneo desde 2014. No ano passado, o OIM estima que só na rota do Atlântico ocidental tenham ocorrido 45 naufrágios, que provocaram a morte ou o desaparecimento de mais de 540 pessoas.  

 

O Grupo Municipal do LIVRE vem propor à Assembleia Municipal de Lisboa que delibere: 

  1. Guardar um minuto de silêncio em memória de todas as vítimas dos naufrágios em rotas com destino à Europa, incluindo as vítimas do naufrágio de dia 14 de junho no mar mediterrâneo.  
  2. Lamentar que estas tragédias não conduzam a União Europeia e os países europeus a modificar as suas políticas de asilo e migração, que são cada vez mais assentes na externalização, nomeadamente, através da cooperação com países terceiros. 
  3. Dar conhecimento deste voto para Conselho Português para os Refugiados (CPR), Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), Centros Nacionais de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM), Plataforma de Apoio dos Refugiados (PAR) e os partidos com representação na Assembleia da Republica.