O LIVRE Almada acompanha as preocupações da Quercus levantadas na consulta pública do Plano de Cogestão da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica (PPAFCC) relativas à exclusão do Plano de Pormenor dos Novos Parques de Campismo (PPNPC) na discussão. É com preocupação que vemos a retoma do antigo tema da fixação de alvéolos para campismo para um total de 17 mil utilizadores no Pinhal do Inglês, adjacente à Mata dos Medos, com impacte estimado em 40 dos 96 hectares deste património verde do nosso concelho e da sua biodiversidade vegetal e animal.
Numa época em que o executivo municipal se compromete com uma Agenda para uma Almada Neutra em Carbono em 2050, é imperceptível a inação deste para rever a sustentabilidade deste projeto nem a sua inclusão numa discussão pública chave.
São vários os motivos que nos fazem contestar este projeto:
- Destruição de património natural – O abate de árvores necessário para executar um projeto desta dimensão (mais de 8000 pinheiros) representa um peso elevado na balança entre a preservação da natureza e o turismo massificado, que de forma alguma compensa a perda de biodiversidade prevista quer diretamente, quer pelos efeitos da remoção de uma grande área verde, quer indiretamente sobre espécies que circulam entre o pinhal e áreas adjacentes da Mata dos Medos, para além da impermeabilização dos solos resultante do processo de construção.
- Aumento da pressão humana – O volume de visitantes previsto terá um efeito perigoso no bem-estar deste ecossistema, ao perturbar a biodiversidade rica do Pinhal do Inglês protegida pela Diretiva Habitats. A isto acrescenta-se a falta de estudos atualizados sobre os efeitos do aumento de visitantes. Sendo esta intervenção de caráter turístico, prevê-se também um aumento insustentável de utilizadores das praias da Fonte da Telha, que tendem a deslocar-se em veículo próprio, incrementando os já atuais problemas de estacionamento.
- Falta de discussão pública – A exclusão da discussão do PPNPC nesta consulta pública não só é incompreensível, como também é reflexo da falta de estímulo à participação democrática da sociedade civil na discussão dos destinos de Almada, ainda mais sobre um projeto que pode vir a ter efeitos enormes nas dinâmicas dos territórios da Costa de Caparica e Charneca de Caparica.
- Turismo de massas – A contínua aposta no turismo como atividade económica central em Almada é um erro grave, ainda mais à custa da destruição parcial de uma Reserva Botânica protegida. O baixo valor acrescentado que este investimento traz ao nosso concelho e o benefício económico marginal esperado não compensam a perda de biodiversidade prevista nem ajuda a fixar os 25 % de almadenses que saem do concelho todos os dias para trabalhar.
Por estes motivos acreditamos que a construção de parques de campismo na principal mancha verde de Almada é um mau investimento no nosso território. Voltamos a acompanhar as soluções propostas pela Quercus para uma Almada que valoriza o seu património natural, juntando ainda outras propostas:
- Reforçar a rede de transportes públicos para quem deseja visitar a Mata dos Medos, ao invés de optar por uma solução de campismo de massas e criar parques de estacionamento em áreas periféricas das matas e praias, com transportes de massa e ciclovias a partir desses parques.
- Reconhecer a Mata dos Medos como área de proteção integral, protegendo-a de projetos que visam a sua destruição e estudar a criação de uma zona tampão circundante à Mata, de modo a evitar perigos diretos causados a animais pela atividade humana, como espécies protegidas de morcegos e raposas.
- Reforçar a educação ambiental sobre as zonas verdes do nosso território junto dos almadenses, através de sinalética informativa na Mata dos Medos e vias circundantes e de programas de sensibilização junto da comunidade e em articulação com o associativismo local.