Não há melhor forma de descobrir o desconhecido do que formular uma pergunta. A União Europeia (UE) é um monstro burocrático, mas monstro é aquilo que se mostra, e a UE não se mostra nem se demonstra no pensamento imediato dos 500 milhões de cidadãos que formam e suportam o demos da democracia europeia: os povos europeus. É urgente falar, saber e perguntar sobre a UE.
Foi com uma pergunta que Vasco da Gama venceu o Adamastor; façamos agora a mesma ao eleitor europeu:
– Quem és tu?
O que é um português no momento em que vota para as eleições europeias? Responde a democracia europeia:
– É um cidadão europeu que nasceu em território português.
Ser europeísta é marcar a distância da Europa que hoje se mostra. Uma Europa que recusa ser unida, obliterando desde logo o seu nome – e portanto a sua existência; que, antes de ter nome com palavra cheia, tem fronteiras marcadas e encerradas; que deixou de ser leme do mundo e com isso sofre por não querer fazer diferente através de uma problematização do seu estatuto hiper-identitário; que toma a democracia como coisa fechada e terminada, não deixando espaço a uma reescrita e a um aprofundamento hoje devidos àquela ideia cintilante que parece tornada passado ou figura de um metal que já não reluz sobre um azul pardacento. Isto não é nostalgia, é cidadania.
Se o lema da UE (in varietate concordia) nos relembra de que a diversidade constrói a união, que é afinal a hospitalidade enquanto acolhimento do estranho e não a recusa do outro pelo medo, não faz então sentido pensar-olhar sobre a Europa somente em português, mas em europeu – que não é uma língua, é um discurso. Tudo isto porque a própria ideia de Europa subverte a cegueira nacionalista que nos faz ver em inverdade o mundo por ela toldado. O ponto de vista do próximo gesto votante é nitidamente europeu na forma, mas desfocado no conteúdo se pensado pela ideia de nação, que é e será uma comunidade imaginada, não real. E eu não preciso de te explicar até onde pode ir o nacionalismo.
Em Portugal, mas não só, o tratamento nacional que tem sido dado às eleições europeias é desinteressado pela Europa. Focado sobretudo em questões nacionais não colocadas em diálogo com a UE, fazendo desta cada vez mais objecto desconhecido para os cidadãos europeus que habitam em território português, que deste modo a si próprios não se podem conhecer e reconhecer, deixando sem resposta Vasco da Gama e conservando o monstro que não nos deixa passar e ser donos do nosso futuro. O poder de mudar o horizonte esteve sempre nas nossas mão e palavra.
No próximo dia 25, ao votar, façamos uma pergunta.
Somos livres de a fazer.
Rafael Esteves Martins, candidato do LIVRE