1979 foi o ano das primeiras eleições europeias e foi também o ano em que pela primeira vez votei, com 18 anos feitos uns meses antes e com a esperança de que o meu voto ajudaria a construir o Portugal com que sonhava.
Numa altura em que a política cumpria a sua raiz grega e era mesmo o direito dos cidadãos, a esperança num Portugal melhor e mais democrático enchia as ruas e as urnas. A abstenção foi de 17% nesse ano. O primeiro voto foi, até hoje, o meu único voto confiante e convicto num partido político e num ideal de cidadania.
1979 foi também o último ano em que senti a política como a causa que nos unia como povo e nos fazia sonhar com um Portugal diferente que cresceria connosco e para nós. Ao longo dos anos, o sonho deu lugar à desilusão, ao desinteresse, à demissão da cidadania, da polis e da política. Esta campanha, em que pela primeira vez fui para a rua falar de política, da nossa política, uma política que acredito convictamente ser necessária para construir uma Europa verdadeiramente democrática, permitiu-me ver a extensão desta desilusão e perceber que o desinteresse se transformara para demasiados portugueses em hostilidade aberta para com a política e os políticos, todos os políticos. Mas permitiu-me igualmente ver a centelha de esperança brilhar naqueles a quem conseguimos mostrar que o LIVRE é diferente.
Por isso, quando me sentei para escrever porque é importante o voto LIVRE nestas eleições europeias, souberam-me a pouco os muitos textos que iniciei sobre as nossas 67 ideias para a Europa, sobre o nosso ideal de cidadania europeia, sobre o nosso fazer diferente europeu, sobre o projeto Ulisses de recuperação da nossa e das economias dos países do Sul. Um país não é a sua economia, são os seus cidadãos, e nenhum país pode estar bem quando os seus cidadãos não estão bem. E não podemos construir uma Europa mais democrática quando a democracia está doente em Portugal, doente de participação, doente de desilusão e doente de falta de esperança.
São três os princípios fundadores do sistema democrático: isonomia, isocracia e isegoria, e que formam a essência da democracia. A igualdade (isos) perante a lei constitui a isonomia, na igualdade de acesso ao poder temos a isocracia, e no acesso à palavra está patente o ideal da isegoria, no sentido de que todos têm o direito de “usar a palavra” na polis, de que o exercício ativo da cidadania passa por todos terem uma palavra a dizer sobre a condução do seu destino.
É necessário devolver a palavra aos portugueses. Só assim lhes devolveremos o sonho, a esperança, a convicção que eu senti no meu primeiro voto, a certeza de que a sua participação é necessária na construção do Portugal que todos queremos. Votar LIVRE no dia 25, o único partido em que todos podem de facto ter a palavra na construção do programa, eleger e ser eleitos, é manter e alimentar a centelha da esperança, combater a apatia e devolver a cidadania a todos os cidadãos e não a reservar apenas a direcções partidárias.
Palmira Silva, candidata do LIVRE